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Incels: os meninos que odeiam as mulheres

  • Foto do escritor: Samuel Elom
    Samuel Elom
  • 13 de mai.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 18 de jun.

Um submundo da internet onde a frustração vira ódio

Eles estão em fóruns, redes sociais e comunidades fechadas. Se autodenominam incels, abreviação de “involuntary celibates” (celibatários involuntários). A princípio, parecem apenas homens solitários que não conseguem se relacionar afetivamente ou sexualmente. Mas o buraco é muito mais profundo e perigoso.

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A comunidade incel cultiva ódio explícito às mulheres, idealiza a violência como resposta à rejeição e cria uma lógica própria onde as culpadas são sempre “elas”. Sim, o incel é um produto da masculinidade ferida, mas também um sintoma de uma internet que recompensa o extremismo.


De frustração a radicalização dos incels

Os incels acreditam que vivem à margem da sociedade por causa da sua aparência física ou posição social. Segundo eles, mulheres escolheriam apenas homens “bonitos” (os chamados Chads), deixando os demais para trás. Essa ideia vira uma lente distorcida que explica o mundo todo: elas são interesseiras, manipuladoras, cruéis. E por isso, merecem punição.


Essa não é apenas uma visão equivocada. É uma crença perigosa.


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“As mulheres preferem caras escrotos do que um cara legal como eu”

Esse tipo de frase é comum em fóruns como 4chan, Reddit (em comunidades banidas como r/incels) e fóruns alternativos como o Incels.is. Ela revela algo importante: a frustração do incel não é só sexual. É existencial. Eles acreditam que a sociedade os deve algo — e que esse algo foi negado por culpa das mulheres.


Quando a misoginia vira violência real

Esse discurso já ultrapassou o ambiente virtual e chegou ao mundo real com sangue. O canadense Alek Minassian, em 2018, matou 10 pessoas atropeladas em Toronto. Pouco antes do ataque, ele fez uma postagem homenageando Elliot Rodger, que em 2014 matou 6 pessoas e feriu 14 na Califórnia em um ataque planejado como vingança contra mulheres.


Rodger se tornou um símbolo dentro da comunidade incel. Em seu manifesto, escreveu:

“As mulheres me deram uma vida de solidão e sofrimento. E agora, eu vou punir todas vocês por isso.” — Elliot Rodger, 2014
Elliot Rodger - Mass murderer
Elliot Rodger - Mass murderer

Esse culto à violência transformou os incels em uma das principais ameaças à segurança pública digital nos últimos anos.


O que dizem os especialistas

A psicóloga e pesquisadora Samantha Madigan, da Fordham University (EUA), que estuda masculinidade tóxica e extremismo online, explica:

“Os fóruns incels funcionam como câmaras de eco onde o discurso misógino é normalizado e incentivado. Jovens vulneráveis encontram ali validação para suas frustrações, que são então canalizadas para o ódio e, em casos extremos, para a violência.”

Essa estrutura lembra, inclusive, processos de radicalização em grupos extremistas religiosos ou políticos.


Dados alarmantes sobre o crescimento

Um estudo da Harvard Kennedy School divulgado em 2023 estimou que fóruns incels receberam mais de 2,6 milhões de visitas mensais, com picos de audiência após atentados violentos cometidos por membros declarados do grupo.


Outro dado: uma pesquisa da Center for Countering Digital Hate mostrou que em média, posts em fóruns incels citam estupro 60 vezes por dia, muitas vezes com teor de aprovação ou apologia.


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Depoimentos do abismo

Em um post anônimo publicado no Incels.co, um usuário escreve:

“Eu tentei ser gentil. Tentei conversar. Mas elas riem de mim, me ignoram como se eu fosse lixo. Eu queria que todas elas sofressem o que eu sofro.”

Esse tipo de desabafo, que à primeira vista parece um grito por ajuda, frequentemente vira combustível para a violência simbólica — ou real.


Séries e documentários que encaram o problema

A cultura incel foi abordada de forma incisiva em produções recentes:

  • “Web of Make Believe: Death, Lies and the Internet” (Netflix) — Uma série documental que mergulha em crimes e extremismos nascidos na internet, incluindo episódios com incels.

Web of Make Believe: Death, Lies and the Internet | Official Trailer | Netflix
  • “The Dangerous Rise of Andrew Tate” (BBC) — Um documentário sobre como figuras misóginas ganham fama e influência entre jovens homens, ressoando com ideias incels.

The Dangerous Rise of Andrew Tate (Full Documentary)
  • ““Adolescência” (Netflix) — Minissérie britânica que acompanha um garoto de 13 anos acusado de assassinar uma colega de escola. A trama aborda temas como cultura incel, masculinidade tóxica e os perigos da radicalização online, destacando como discursos de ódio podem influenciar jovens vulneráveis.

'Adolescência': 'Meninos desesperados por sentido e por modelos de comportamento'

Não é sobre sexo. É sobre poder

No fim das contas, o discurso incel não é sobre celibato involuntário. É sobre homens que acreditam que o mundo e especialmente as mulheres, devem algo a eles. É sobre uma ideia distorcida de que carinho, afeto e sexo são direitos adquiridos, não relações construídas com consentimento e respeito.


Os incels não nasceram odiando mulheres. Mas foram alimentados por uma sociedade que ainda valida o machismo, que ainda naturaliza a dor masculina como raiva, e que ainda deixa espaços digitais crescerem como verdadeiras incubadoras de ódio.



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