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A estética do fracasso: por que tá na moda se dizer cansado, fudido e triste?

  • Foto do escritor: Samuel Elom
    Samuel Elom
  • 13 de out.
  • 2 min de leitura

Existe, sim, uma realidade de cansaço, tristeza e desesperança generalizada. A diferença é que agora essas emoções ganharam estética, filtro e, em muitos casos, engajamento.

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Estética do fracasso: o que está acontecendo com a nossa geração?

Se você já abriu o Instagram, o X (antigo Twitter) ou qualquer outra rede nos últimos meses, com certeza viu alguém dizendo algo como: "eu tô só o pó da rabiola", "acabado com estilo", ou "pelo menos tô triste com drip". Frases como essas misturam humor, moda e exaustão, e nos fazem rir, mesmo quando a vontade real é de chorar.


Mas o buraco é mais embaixo. De acordo com dados da OMS (2023), o Brasil é o país com a maior taxa de pessoas ansiosas no mundo. 9,3% da população sofre com ansiedade, o que escancara que o sofrimento não é moda, é sintoma de uma sociedade doente.


O fracasso virou uma tendência?

O que antes era motivo de vergonha ou silêncio, agora é quase um estilo de vida. Pessoas compartilham seus boletos atrasados com um certo charme, posam no banheiro da firma com legendas irônicas sobre burnout, e fazem piada de crises de ansiedade.


Esse comportamento não surge do nada. Ele é reflexo de um mundo em colapso: mudanças climáticas, crises econômicas, instabilidade política e relações líquidas.


O fracasso virou não só compreensível, mas esperado. E, ao invés de escondê-lo, a gente exibe. Porque não há tempo ou energia para manter aparências.

A romantização do colapso

É aqui que mora o problema. Entre reconhecer que estamos mal e transformar isso em lifestyle existe uma linha tênue. De tanto falar disso em tom de meme, começamos a normalizar a dor e, pior, às vezes até usá-la como moeda de validação.


A tristeza começa a ser tratada como identidade, não como algo a ser cuidado.


 Postar sofrimento não é terapia

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"É essencial validar o sofrimento, mas também entender que o reconhecimento público da dor não substitui o cuidado real. Nem tudo que a gente sente precisa virar post."

A influência das redes sociais

As redes amplificam esse cenário. Os algoritmos gostam de emoções intensas. Vídeos de desabafos, stories sobre crises existenciais e memes de tristeza têm engajamento. Como resistir a isso?


Ao mesmo tempo, criadores de conteúdo sentem a pressão de performar vulnerabilidade o tempo todo — e isso esgota ainda mais. Estamos presos entre o querer ser real e o ser consumido.


Fudido, sim. Mas com estilo

É impossível ignorar o papel da estética. A gente posta a tristeza, mas com um look alinhado, uma foto bem tratada e uma legenda espirituosa. A dor, às vezes, vira uma vitrine.


E isso também é compreensível. Em um mundo onde tudo é performático, até o fracasso entra na lógica do consumo. A estética do fracasso é, muitas vezes, a única forma que temos de encontrar pertencimento.


"Tá todo mundo na merda, mas cada um com seu feed organizado."

Tem como sair disso?

A resposta não é simples, nem rápida. Mas talvez comece com a honestidade. Estamos, sim, cansados, fudidos e tristes. Mas isso não precisa ser bonito. Precisa ser ouvido, acolhido e, quando possível, transformado.





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