O Silêncio das Ostras: a ambição que engole as meninas
- Mariana Ribeiro

- 11 de ago.
- 2 min de leitura
Atualizado: 12 de ago.
Em uma cena de O Silêncio das Ostras, Kaylane (Lavínia Castelari) observa um colar de pérolas falsas sendo colocado no pescoço da mãe. Cleude (Sinara Teles), então, revela o desejo de partir do interior mineiro para acessar as pedras produzidas pelas ostras no mar.
Conduzido pela perspectiva subjetiva de Kaylane, o filme dirigido e roteirizado por Marcos Pimentel conta a história de uma menina que se tornou mulher em meio à mineração predatória.

Infância onde a terra fere
A mistura de momentos doces e sufocantes mostra a complexidade da vida que insiste em existir em meio aos perigos. As cantigas e o carinho pelos bichos são contrastados pela sensação de medo criada pelo som de metais, como um trem ou utensílios de trabalho.
Também fica evidente a particularidade de uma infância vivida em um local ambientalmente degradado. Contrariar a mãe para não nadar em um determinado lago vai além de uma desobediência inocente e pode trazer queimaduras causadas pela presença de substâncias tóxicas na água.
Fim da aventura
Amadurecer não diminui os riscos para uma mulher. Mais velha, a personagem passa a ser interpretada por Bárbara Colen e enfrenta o assédio dos homens em uma posição de dominação não só a ela como ao restante de sua família operária.
Chama a atenção a performance da atriz quando sua personagem é questionada pelo irmão sobre o desejo de ir embora. Colen consegue transmitir, com apenas um olhar, a contradição entre o desejo de permanecer em seu lugar de origem e a necessidade de buscar uma realidade mais segura.
Em um terceiro momento do filme, Pimentel explora a perspectiva melancólica de uma canção estimulante. Uma música associada ao Carnaval assume um tom de tristeza para anunciar um dos maiores crimes ambientais do mundo: o rompimento das barragens da mineradora Vale.

Onde a dor deságua
Assim, o filme segue um rumo pós-apocalíptico no qual um povo busca se reconstruir após presenciar suas próprias histórias arrastadas pela lama. E é importante notar como acaba encontrando a cura em quem originou aquela terra.
O Silêncio das Ostras é um filme potente que permanece forte na memória. Quando os créditos subiram, algumas pessoas ainda olhavam atônitas para a tela e, mesmo depois de uma semana, eu pude escrever sobre os seus detalhes.
Que os povos atingidos por mineração não precisem chegar ao mar para que as ostras reconheçam a sua dor.










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