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Killa: arte urbana como território expandido

  • Foto do escritor: Samuel Elom
    Samuel Elom
  • 14 de mai.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 13 de jun.

Com base na rua, no grafite e na cultura urbana, o artista plástico constrói uma linguagem própria e cheia de camadas

Killa
Killa

O início entre sprays e colagens

Com mais de 13 anos de caminhada no grafite, Killa começou sua trajetória como muitos artistas urbanos: entre sprays, pichações e uma vontade urgente de se expressar.


Sua entrada no universo da arte foi pelas ruas de Belo Horizonte, onde estabeleceu um diálogo direto com a cidade e seus códigos visuais.


Foi também nessa jornada que ele adotou a caveira como bomb — uma marca gráfica que se repetiria em muros, adesivos, intervenções e, mais tarde, em suas obras de arte.



A Guignard e a transição para as artes plásticas

A vivência com o grafite não impediu, mas fortaleceu sua formação acadêmica. Killa está se graduando pela Escola Guignard (UEMG), onde aprofunda sua técnica e aumenta o repertório estético.


Com base na geometria, na colagem e na experimentação com materiais reaproveitados, o artista desenvolveu uma produção plástica que mantém a alma das ruas, mas se expande para outros suportes e espaços.

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"...por meio dessas formas, busco transmitir as emoções e experiências decorrentes da dinâmica de viver em um centro urbano, explorando a sensação de estar preso dentro das formas geométricas, sentindo-nos limitados pelas estruturas que compõem a cidade."



Técnica, contraste e materiais urbanos

O trabalho de Killa chama atenção pela repetição de elementos visuais, pelo contraste de cores (preto, branco, cinza, rosa e cromo) e pela incorporação de materiais típicos da paisagem urbana: cartazes rasgados, restos de adesivos, lambe-lambes e objetos encontrados nas ruas.


Essa estética urbana, carregada de ruídos visuais, transforma o que seria considerado resíduo em arte. São obras que mantêm as marcas do tempo, da chuva e do toque humano — e que justamente por isso se tornam tão expressivas.


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''A correria pelo dinheiro na vida, presos à rotina, nos deixamos sem tempo. Representei isso utilizando corpos negros, o que torna tudo ainda mais desafiador. Usei alguns materiais que facilitam a compreensão disso, como dinheiro rasgado, cartões e relógios. Estamos sem tempo."



As pinturas: entre ruas e fragmentos da cidade

Uma das séries mais potentes de Killa é aquela em que suas telas se conectam visualmente, formando uma grande composição contínua, como se fossem fragmentos de um único mapa urbano.

Solitude (Pintura acrílica sobre painel, uso de spray e colagem.)
Solitude (Pintura acrílica sobre painel, uso de spray e colagem.)

A ideia por trás dessas obras é criar uma pluralidade de elementos visuais, reunindo diferentes materiais para que, ao se agruparem, as pinturas se mesclem como o próprio ambiente urbano:

caótico, colado, sobreposto, vibrante e cheio de ruído.




Nessas pinturas, o artista utiliza formas geométricas para estruturar a composição e equilibrar os elementos encontrados nas ruas: seus próprios adesivos, suas tags, os lambe-lambes e a já mencionada caveira. Tudo isso se torna parte de um território simbólico, como se o artista reconstituísse, camada por camada, a atmosfera da cidade em que vive.


Um olhar sobre o lixo e a potência do descartável

Mais do que um exercício estético, as obras de Killa também carregam um posicionamento ético: ao reaproveitar lixos, embalagens e materiais descartados, ele propõe uma reflexão sobre o valor do que é jogado fora.


Essa escolha dialoga diretamente com a vida urbana, onde tudo é passageiro e substituível, mas também onde o velho e o gasto carregam história, marcas e vivência. Cada fragmento colado em suas telas guarda um passado, uma interação com a rua, uma memória coletiva ou uma provocação visual.


Vida (Pintura Acrílica, Assemblage, Colagem)
Vida (Pintura Acrílica, Assemblage, Colagem)
"Retratando um grande amigo, busquei criar uma linguagem que refletisse o uso da tecnologia para perseguir nosso maior vício, a música. Junto a isso, também represento a boemia, havendo também um espaço em branco que ilustra o quanto preferimos viver em nosso próprio mundo, mantendo distância de outros mundos."



A caveira como assinatura e símbolo

Na cultura do grafite, ter uma tag ou bomb é como carregar uma identidade gráfica. No caso de Killa, a caveira é mais do que uma figura: é uma assinatura que atravessa os suportes e os contextos.


Ela aparece de forma recorrente, ora mais gráfica, ora mais pictórica, transbordando da rua para o campo das artes plásticas. A caveira, geralmente associada à morte, aqui também carrega misticismo, repetição e até certa graciosidade, conforme o próprio artista descreve. Misturada a outras camadas visuais, ela ganha novas leituras... às vezes brutal, às vezes poética.



Killa e o crânio: todo mundo tem um debaixo da pele

A escolha por trabalhar com crânios também carrega uma mensagem de universalidade. Como o próprio Kila diz:

"eu gosto da ideia de que todos nós temos crânios, um símbolo que, no fim das contas, representa todo mundo."

Por trás da estética forte e marcante, existe uma reflexão sobre igualdade e humanidade, algo que conecta todas as pessoas em um nível essencial, independente de aparência, origem ou história.


O retorno dos "crânios do Killa"

Desde que entrou no grafite, o crânio sempre foi o símbolo de Killa. Ele ficou um tempo fora de evidência, entre 2016 e 2021, mas voltou com força total em 2022 e, desde então, segue marcando presença nas ruas.


Arte que nasce da rua, mas não se limita a ela

A obra de Killa não tenta limpar a sujeira da cidade: ela mergulha nela. As marcas do tempo, o improviso, o erro, o ruído visual, os contrastes de forma e textura. Tudo isso é matéria-prima. Mas ao mesmo tempo, há método, estrutura e sofisticação formal.


Suas obras dialogam com quem já viveu a cidade de perto. São mapas afetivos, colagens de memória urbana, geografias do improviso e da resistência.


O Killa também faz parte do bando composto por grafiteiros, tatuadores, músicos, denominado Calle Crew 77, um dos mais ativos da cidade, que falaremos sobre em outra oportunidade.


Se você deseja conhecer artistas que entendem a rua não como um tema, mas como origem, gesto e matéria — Killa é nome que precisa estar na sua rota.




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