Eu não queria escrever este texto - o que o show de 20 anos do Babylon By Gus nos revela
- Mariana Ribeiro

- 26 de ago.
- 3 min de leitura
Atualizado: 26 de ago.

Se Mano Brown é o maior poeta do rap brasileiro, Black Alien é o maior letrista. Isso porque o rapper de Niterói confere tridimensionalidade a suas músicas. É uma pena não ter sentido essa potência no show de 20 anos do primeiro disco do Gustavo, o Babylon By Gus Vol. 1 - O Ano do Macaco (2004) que aconteceu na sexta-feira (22) na Autêntica em Belo Horizonte (MG).
Com exceção da longa introdução de Jesus Chorou e do último álbum Cores e Valores - e com toda a admiração aos beats insubstituíveis de KL Jay - as letras do Racionais funcionariam perfeitamente se somente declamadas. As do Black Alien não. Além de trazer mensagens nos versos e criar imagens pela forma como as histórias são contadas, o rapper adiciona uma terceira camada a suas músicas que é a sagacidade de entrelaçar o texto aos beats. A presença dos versos para o som é tão necessária quanto o som para os versos.
Talvez esse seja o motivo principal pelo qual o som do Gustavo de Nikiti não chegou para mim no show melhor do que eu escuto em casa. Acredito que, na tentativa de levar o Babylon By Gus que eu escuto nos fones para aquele palco, a produção não tenha feito as melhores escolhas.
Entre milhões de views e milhões de ninguém viu
Confesso que minhas expectativas como fã estavam altas. Fiquei imaginando como seriam Caminhos do Destino ou Babylon By Gus ao vivo acompanhadas por instrumentos de sopro, mas tive que me contentar com a guitarra tocada pelo beatmaker. Em certo momento, escutei alguém da plateia dizer "ele nem está usando nas que dá pra usar!" ao se referir ao instrumento.
Além disso, a relação entre o artista e o público interfere na performance. Não sei como o Gustavo estava se sentindo consigo mesmo e diante de uma plateia de classe média, mas tive a sensação de que a estrutura intimista da Autêntica não contribuiu para aproximar o artista da plateia. Plateia esta que, vale notar, não estava muito cheia para um show cujos ingressos foram vendidos em poucos minutos. Porém, esse distanciamento também é uma responsabilidade do próprio público que não economizou no uso dos celulares. Fiquei pensando se essa quantidade de registros não tenha incomodado o rapper.

Presença que interessa
Estar em um show é ter também a oportunidade de escutar o que o artista tem a dizer para além dos versos. E Gustavo deixou a plateia bem contente ao anunciar produções inéditas em reggae ao lado de Papatinho. Também foi interessante descobrir que Taken Ten leva o sample de uma mulher estadunidense cuja família pobre recebe pelos direitos autorais atualmente.
No entanto, eu estava ansiosa mesmo por ouvir sobre o álbum Babylon By Gus e fui surpreendida por um certo ceticismo. Ao avaliar a longevidade daquelas produções, Gustavo demonstrou um desânimo ao notar que as mesmas críticas feitas há 20 anos continuam atuais e confessou não acompanhar as notícias recentes. Preferiu cantar Como Eu Te Quero e Perícia Na Delícia, concluindo que suas "canções de amor são de guerra e as canções de guerra são de amor".
O álbum que deveria ser homenageado pelos seus 20 anos também não foi a estrela da noite. Black Alien trouxe mais músicas do Abaixo de Zero: Hello Hell (2019) do que o necessário. Apesar de apresentar um beat diferente em Estilo do Gueto, a transformação de Vai Baby, que levou somente voz e guitarra, chamou mais a atenção.
Apesar dos pontos negativos, o público deixou nítida a força que Gustavo mantém como rapper cantando Na Segunda Vinda a plenos pulmões. É uma pena que a produção não tenha arriscado um show que valorizasse somente as músicas do Babylon By Gus Vol. 1 - O Ano do Macaco, pois Black Alien tem qualidade e uma base de fãs suficientes para isso. Sinto muito, Gustavo de Nikiti, eu queria ter escrito outro texto.









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