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Quando a bola fura: futebol e política não jogam separados

  • Foto do escritor: Samuel Elom
    Samuel Elom
  • 6 de mai.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 12 de ago.

O futebol nunca foi só um jogo. Dentro de campo, dribles e gols. Fora dele, discursos, símbolos, narrativas. Futebol e política sempre jogaram no mesmo time, ainda que muita gente tente fingir o contrário.


Da Ditadura Militar no Brasil à Copa do Mundo no Catar, da faixa do capitão ao silêncio ensurdecedor das arquibancadas, o futebol carrega ideologias, levanta bandeiras e, às vezes, até as queima. É paixão popular, mas também ferramenta de poder.


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O mito da neutralidade: “futebol não é lugar pra política” (será?)

A frase "futebol e política não se misturam" é repetida como se fosse regra de jogo. Mas, na prática, ela só serve pra tentar deslegitimar protestos e posicionamentos que incomodam.


Quando um jogador se ajoelha contra o racismo ou levanta uma camisa com mensagem social, o desconforto aparece. Mas e quando o presidente de um país usa a camisa da seleção como marketing político? Aí parece que ninguém liga.


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De Sócrates a Rashford: a resistência tem uniforme

Na história recente, vários atletas romperam o silêncio imposto pela lógica do entretenimento puro.


Na Inglaterra, Marcus Rashford enfrentou o governo pra garantir alimentação escolar pra crianças carentes. Em ambos os casos, a bola virou megafone.


Ídolos insubmissos: quando Sócrates e Reinaldo chutaram o sistema

No Brasil, Sócrates e a Democracia Corinthiana, Reinaldo e outros desafiaram o autoritarismo no campo e fora dele.


Sócrates e a Democracia Corinthiana

Médico, filósofo e camisa 8 do Corinthians nos anos 80, Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira era muito mais que um craque de bola.


Ele foi a alma da Democracia Corinthiana, um movimento dentro do clube que, em plena Ditadura Militar, defendia voto, participação e decisões coletivas — desde a escalação do time até questões administrativas.


Tudo era decidido em grupo, inclusive o uso da camisa do Corinthians com frases como "Ganhar ou perder, mas sempre com democracia", bem no auge da repressão. Sócrates também foi uma das vozes mais importantes na campanha Diretas Já, chegando a dizer num comício:


“Se o Congresso não aprovar as eleições diretas, eu vou embora do Brasil!”

Promessa feita, promessa cumprida: o Congresso rejeitou as Diretas em 1984 e, logo depois, ele assinou contrato com a Fiorentina e foi jogar na Itália. Era uma forma de protestar contra o retrocesso democrático no país.


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Reinaldo, o Rei do Galo, o rei da ousadia

Reinaldo, atacante do Atlético-MG nos anos 70 e 80, foi um dos maiores injustiçados da história do futebol brasileiro. Gênio em campo (tinha média de quase 1 gol por jogo), Reinaldo usava o punho erguido a cada comemoração, em referência aos Panteras Negras e à luta contra a opressão.


Isso incomodava — muito. Reinaldo era abertamente crítico à Ditadura e ao racismo, falava em nome dos pobres e não abaixava a cabeça. Resultado? Foi sistematicamente boicotado pela CBF e pela imprensa da época.


Mesmo sendo artilheiro e em forma, ficou de fora da Copa de 78 (jogou só um jogo) e não foi convocado pra de 82, quando muitos esperavam vê-lo brilhando no ataque do time de Telê.


“Se eu fosse submisso, teria jogado três Copas do Mundo”, ele disse anos depois.

No fundo, Reinaldo pagou o preço por não ser "um bom menino" pros engravatados da época. Mas virou lenda, e até hoje é símbolo de coragem dentro e fora das quatro linhas.

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Copa do Mundo, geopolítica e diplomacia de chuteira

As Copas sempre foram grandes palcos políticos. A Copa de 1978 na Argentina foi usada pela ditadura como cortina de fumaça. A de 2018 na Rússia teve clima de propaganda nacionalista. E a do Catar em 2022 levantou debates sobre direitos humanos, trabalho escravo e liberdade de expressão.


Camisa amarela: símbolo da nação ou apropriação política?

Talvez o maior exemplo recente de como futebol e política se misturam no Brasil seja a disputa simbólica da camisa da seleção.


O amarelo que era sinônimo de alegria e Copa virou, pra muitos, símbolo político polarizado. E essa apropriação afetou o jeito como brasileiros se conectam com a própria seleção, tem gente que torce, mas não veste.


No fim, é tudo política. E tudo futebol.

O futebol é espelho, e o que ele mostra vai muito além do placar. Política está nas músicas da torcida, nas transmissões, nas entrevistas, nas convocações e nos silêncios. Fingir que isso não existe é jogar contra.



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